🔗 Quarta-feira, 10 de julho de 2013
Achievement unlocked: entreguei ontem uma monografia para uma cadeira do doutorado em informática onde consegui enfiar citações de Gilles Deleuze e Félix Guattari, Paul Krugman e Douglas Hofstadter.
E viva o comportamento emergente de sistemas complexos representados pelo crescimento das cidades como um exemplo de caos que demanda a construção de conceitos e estabelecimento de relações para que se faça seu entendimento através da maneira de pensar do design!
🔗 Automatizando a espera na fila do ingresso do GnR
Entrei no site da venda de ingressos pro Guns n’ Roses às 10 da noite (22:02 talvez?).
“Sua posição na fila é 25504”.
Fui até uma meia-noite e pouco olhando o número cair lentamente, até que o Rakan me lembrou que eu sei programar, aí eu escrevi esse script abaixo pra “tocar um alarme” quando a fila chegasse perto no final. Botei o computador do lado da cama e fui dormir. 7 da manhã do dia seguinte, acordo ao som de Nightrain ao vivo. Acompanhei os momentos finais da fila e, enfim, consegui comprar o meu ingresso!
🔗 Os hábitos do software livre…
Li um post de um amigo no Facebook e deu vontade de editar corrigindo um errinho de português (reflexo de ler a Wikipedia, onde eu posso fazer e faço isso).
Aí pensei que como o texto está no nome dele então não seria legal editar direto, mas sim editar uma cópia e enviar um “pull request” pra ele onde ele pudesse ver as mudanças e aceitá-las, atualizando o próprio post em um click (como acontece no Github, site de compartilhamento de código de software livre onde tenho meus projetos). Infelizmente o Facebook não oferece esse recurso.
Por que o mundo em geral não é mais como o mundo do software livre? A Wikipedia tá aí pra mostrar que, se você der pras pessoas ferramentas para atuar colaborativamente, um número suficiente de pessoas vai usá-las de modo a produzir resultados fantásticos.
🔗 Sobre a “nova economia” das empresas da internet
Vi essa imagem no Facebook:
Roteiro comum a todos esses:
- consiga uma graninha de de venture capital (seed money)
- use esse dinheiro para construir uma infraestrutura (site, aplicativo) para prover um serviço de middle-man para facilitar acesso centralizado a alguma coisa qualquer que esteja distribuída
- segundo round de investimento: (Series A round) apresente essa infra aos investidores e levante alguns milhões de venture capital, para sustentar a próxima fase [*]
- ofereça o serviço de middle-man gratuitamente à população, dando a eles a coisa com o preço do mercado (ou a prejuízo, vide: dumping), mas com conveniência maior (afinal, centralizado é sempre mais conveniente que distribuído)
- com a tendência natural de network effect, o serviço acumula usuários a ponto de “todo mundo estar nele” (network effect)
- uma vez que a fase anterior andou suficientemente, a base de usuários (especialmente, do lado dos usuários que provê conteúdo comercialmente à plataforma, os “parceiros”) estará “presa” à sua rede (ie, com esforço investido demais nela para migrar para outra [ex: likes na página da sua empresa no Facebook, pontuação de recomendações no Uber ou Airbnb], vide: vendor lock-in), aí pode “monetizar” em cima deles à vontade, eles não têm pra onde ir.
Resumindo, aparentemente a grande sacada do emprendedorismo moderno é construir um monopólio virtual como atravessador pela internet.
[*] essa fase funciona mais fácil se você estiver na grande San Francisco**
[**] preferencialmente se você já tiver passado pela fase 1 em San Francisco também***
[***] e especialmente se tiver sido por alguma encubadora de lá, tipo YCombinator****
[****] suas chances de entrar na YCombinator aumentam se você vier de alguma universidade tipo MIT ou Caltech
🔗 Sobre meritocracia e igualdade, na sociedade e no software livre
Meu amigo Evandro postou o link para um belo texto, a que ele precedeu com o seguinte epigrama, cirúrgico:
Meritocracia individual vs meritocracia social.
Recomendo bastante a leitura.
Acho bem interessante levantar essa questão do significado de “meritocracia”. É uma palavra cuja conotação foi mudando em tempos recentes.
Há alguns anos o termo definitivamente não estava na ordem do dia. Eu nunca tinha ouvido ninguém falar.
O primeiro contato que tive com o termo era dentro de comunidades de software livre, pra explicar como as coisas funcionam lá. Ali, eu achei uma ideia ótima. Sempre fui defensor.
Recentemente, teve essa inversão. A tal “classe média reacionária” de que o texto fala começou a defender o status quo de qualquer desigualdade. E fazer isso sempre em nome da tal meritocracia. Aí as coisas começaram a ficar estranhas pra mim. Não demorou pro pessoal de esquerda abraçar o discurso “abaixo a meritocracia!”. Eu, que não nego que sou de esquerda, fiquei olhando com uma cara de “ei, peraí, mas mas…”
Aí o texto (e o preciso destaque de cinco palavras do Evandro) desata esse nó claramente. Tem uma diferença fundamental entre as meritocracias do parágrafo anterior e a do anterior a esse. A meritocracia no mundo do software livre é uma meritocracia entre membros que têm condições iguais. Todo mundo ali é programador, tem formação, acesso a computador, internet, etc. Dadas todas essas condições, aí realmente fica aquela coisa do “quem contribui mais, apita mais”. Na outra, é uma “meritocracia” onde muito poucos têm sequer chance de mostrar algum mérito. E se a maioria está de fora, é mesmo o mérito que define quem está no topo?
Só que até na meritocracia bonita do software livre a coisa tem uns furos não totalmente aparentes. E nem estou considerando que estamos olhando só pro universo da informática, o que já é uma restrição. Quem não tem o perfil típico tem dificuldades pra entrar nas “panelas”, não importam seus méritos. Vide os casos de sexismo em conferências e comunidades de desenvolvedores, por exemplo. Cadê a meritocracia? Outro ponto foi levantado por um amigo no Twitter. “Open-source development is not as much as a meritocracy as it is a have-enough-time-ocracy”… Acaba que os mais presentes/insistentes muitas vezes “vencem pelo cansaço” as discussões.
Igualitarismo é às vezes visto como o contrário do culto ao mérito. Afinal tem o problema do “freeloader” que se encosta no “sistema”, etc. Mas o que eu acho é que estruturas como a do software livre geram condições mais igualitárias por design. Considere o conceito do copyleft, por exemplo: “usou o código aberto, agora abre o seu código também”. Isso acaba abrindo mais espaço para o verdadeiro mérito se destacar, uma vez que o “campo de jogo” está mais nivelado. Software livre sozinho não resolve, vide os problemas que apontei. Além disso há modelos mais e menos simétricos de software livre. Mas acho que aponta um tipo de modelo possível. É diferente do igualitarismo “top-down” de Estado. Infelizmente, vejo essa ideia expressa muito pouco em outros lugares.
É preciso, como disse o texto, criar uma outra cultura do mérito. Além disso, precisamos de novos conceitos de igualdade. Afinal, ambos estão em falta.
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