🔗 Sobre o boom das commodities
O lance do “boom das commodities” que adoram usar pra diminuir os feitos da gerência econômica do governo Lula é um argumento falho em vários aspectos.
Um deles é que nem todos os países produtores de commodities se dão bem, vide o famoso caso do “Oil Curse” na Nigéria — ou seja, um país tem que ser bem governado pras commodities empurrarem o país pra cima, isso não vem automaticamente e, se mal governado, as commodities podem gerar uma desigualdade absurda, o que na mão do Lula, não aconteceu.
E a outra coisa que ninguém fala é que o período 2003-2010 não incluiu só o tal boom das commodities, ele incluiu também a maior crise financeira global da história, e o motivo pelo qual o Brasil se salvou dela foi devido às reservas construídas pelo governo — quando o Lula disse no Flow Podcast que o Henrique Meirelles o ajudou muito, certamente tem a ver com isso, pois esse plano conjunto dos dois _antes da crise_ quando o Meirelles presidiu o Banco Central (esse mesmo que uns desavisados querem tornar “independente” do governo) foi o que garantiu as reservas que fizeram da crise global a tal “marolinha” no Brasil.
O governo Lula foi uma aula de governança econômica. De “sorte” não teve nada.
Não é por nada que quem realmente entende de economia, incluindo liberais célebres como o presidente do BC do FHC Armínio Fraga, o ministro da Economia do FHC Pedro Malan e o arquiteto do Plano Real Edmar Bacha, TODOS declararam voto em Lula no segundo turno.
🔗 Mini book review: “Brimos”, Diogo Bercito
“Brimos” conta a história de várias famílias sírio-libanesas que produziram descendentes que se tornaram nomes relevantes na política brasileira, de Temer e Maluf a Haddad e Boulos.
Uma leitura leve. Contém um bom background da realidade dos sírio-libaneses que chegaram ao Brasil no fim do século 19 e início do 20, com foco primário no Líbano. Escrito de forma acessível para quem não conhece nada deste universo, e ainda assim agradável para quem o conhece. Muitas das histórias são parecidas, mas ao mesmo tempo cada uma delas parte de diferentes realidades no Líbano e traçam histórias de vida no Brasil por gerações que não por acaso resultam em trajetórias políticas tão diferentes. Um livro que meu falecido pai gostaria de ter lido.
🔗 Domingo, 28 de outubro
Eu voto no Rio de Janeiro. Cidade essa que é, além do Rio de Janeiro, um pouquinho de cada canto do Brasil. Calhou que um dos mesários da minha seção é colorado. Descobri no primeiro turno da maneira óbvia: fui votar com a minha camisa do Inter. A 12, do Alex. Foi a minha discreta manifestação individual e silenciosa. À época o Inter se alternava da liderança do campeonato, e pra minha surpresa ele viu a camisa, sorriu e disse “e aí, será que vamos ser campeões esse ano?”. Ouvir um colorado de sotaque carioca sempre me faz abrir um sorriso: me faz pensar que se um dia a família crescer longe do RS ainda posso passar o coloradismo adiante.
Segundo turno, saí 7:30 da manhã pra ir votar e depois voar de volta pra casa. Lá fui eu de novo com a camisa do Inter. Dessa vez com um adesivo do Haddad no peito, numa manifestação um tanto menos discreta. A Patrícia pegou avião pra Campinas adesivada na véspera: me inspirei nela, criei coragem e peguei um dos adesivos da Ana Lúcia. Como diz a frase mesmo? “A esperança tem que vencer o medo”.
8 da manhã, sessão abrindo, sem fila. O mesário colorado viu a camisa (e o adesivo) e lembrou de mim, claro. Simpático, me cumprimentou e disse:
— Agora tá mais difícil de ser campeão, né?
Verdade. O Inter essa semana está a 5 pontos do líder. Respondi com um sorriso:
— É difícil, mas a esperança é a última que morre.
Ele sorriu de volta e o presidente de mesa concordou:
— É, a esperança é a última que morre!
A outra mesária riu e brincou:
— Gente, olha os assuntos!
Ele logo emendou: — Sou botafoguense, vou torcer pro Inter passar o Flamengo e ser campeão!
Enquanto o presidente de mesa digitava os dados e liberava a urna, papeamos os quatro sobre futebol. A mesária, também botafoguense (coisas de votar na Praia de Botafogo!), surpresa que o colega carioca é colorado. O presidente de mesa, preocupado pro Botafogo não cair. Entre preocupações e esperanças, foi um momento agradável. Trabalhei em três eleições, sempre sinto uma empatia especial pelos mesários. Acho que é uma experiência que aproxima a pessoa do sentimento da democracia.
Votei, peguei meu comprovante, desejei um bom dia de trabalho a eles e segui pro aeroporto.
🔗 Quarta-feira, 31 de agosto
Andando pela Marquês de Abrantes, eu paro porque vejo uma multidão, a uma boa distância, olhando para um ponto. Algo aconteceu.
Assalto? Briga? Melhor ficar longe. Eu vou perguntar pro jornaleiro e reparo que ele está rindo da cena.
“Um cara aí desandou a gritar, aí atravessou a rua e foi se estranhar com outro que gritou de volta, contra a Dilma, a favor da Dilma, uma confusão!”
Eu tento identificar a confusão de longe pra ver se está tranquilo passar, mas já parece dispersa.
O jornaleiro diz: “ó, la vem ele!”
Um homem branco de terno e gravata, de uns 40 anos, com um sorriso de ponta a ponta, levando de mãos dadas a esposa, quieta. Ele segue balançando a outra mão pro alto e gritando pela rua “Quem votou em Dilma, votou em Temer!”, repetindo sem parar.
🔗 Terça-feira, 14 de junho
O motorista não para no ponto. O passageiro insiste pro motorista abrir a porta fora do ponto.
“Os dois estão errados”, eu penso, mas resisto de fazer esse comentário à senhora ao meu lado que balança a cabeça ao ver a cena.
Esse comentário colocaria uma falsa simetria onde não há: um dos lados detém o poder. Um tem o botão de abrir a porta, o outro não.
Mas numa escala maior o forte é o fraco: o motorista tem o botão da porta, mas está sujeito à escala de horários da companhia de ônibus, que o faz pular pontos pra cumprir esses horários. Agora ele é o fraco sem poder de mudar as coisas.
Lembrei daquela frase “cada dia é um 7-1 diferente”, e pensei: “cada dia é um Israel-Palestina diferente”.
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